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Estada do congressista republicano George Santos no Brasil

Jun 02, 2023

NITERÓI, Brasil – A visão do recém-chegado pegou Gino Fonseca de surpresa. Como uma das drag queens mais proeminentes da cidade, Fonseca achava que conhecia quase todo mundo que trabalhava em boates e eventos LGBTQ. Mas quando ele subiu em um carro alegórico da Parada do Orgulho, vestido com sua persona drag, Katya Furacão, ele viu uma jovem e deslumbrante artista drag que ele nunca tinha visto antes.

Fonseca observou Kitara Ravache, que usava um vestido vermelho enfeitado com joias, maravilhada. A novata apareceu do nada, mas já estava no topo da cena gay local, dançando ao lado das drag queens mais consagradas do subúrbio carioca.

“Ela brilhou”, lembrou Fonseca. “Ela tinha luz.”

Aquele dia de agosto de 2007 foi o apogeu do breve e há muito escondido passado do deputado George Santos como artista drag no Brasil, quando o futuro congressista republicano de Nova York viveu uma vida que muitas vezes estava em desacordo com sua política atual.

Nos Estados Unidos, como membro assumidamente homossexual de um partido que agora tem como alvo o tipo de espectáculo que realizou, Santos apoiou políticas de linha dura que muitos na comunidade LGBTQ consideram discriminatórias. Ele apoiou uma lei da Flórida que proíbe os educadores de discutir a orientação sexual no ensino fundamental. Ele co-patrocinou um projeto de lei que separa os sexos com base em “diferenças biológicas imutáveis”. Ele criticou os pais do mesmo sexo, chamando-os de “o sabor da década”.

Mas em Niterói, cidade natal de sua mãe, Santos participou ativamente do nascente movimento pelos direitos dos homossexuais, de acordo com fotos e pessoas que o conheceram, e se apresentou como travesti com mais frequência do que ele admite. Ele participou das primeiras Paradas do Orgulho LGBT da cidade, distribuiu panfletos em eventos, fez amizade com alguns dos principais ativistas da cidade e subiu em palcos de casas noturnas para dançar e sincronizar os lábios em sua drag persona, Kitara Ravache, prometendo um dia competir no Miss Brasil Gay.

Santos não quis dar entrevista para esta reportagem. Em resposta a perguntas escritas, ele emitiu uma negação geral. “Nada do que você está perguntando é verdade e eu aconselho que você tenha seus fatos corretos e provas do que escreve”, disse ele. Ele acrescentou: “Minha opinião política sempre foi consistente”.

Santos, que anteriormente negou ter atuado como drag no Brasil, disse ao The Washington Post que o fez apenas naquele dia de 2007, quando tinha 19 anos, a mando do amigo da família Manoel Antiqueira, uma das drag queens mais renomadas da cidade. (A Antiqueira contestou a conta do Santos.)

Santos raramente discutiu sua vida no Brasil, onde passou um tempo significativo durante sua formação na fase adulta. Mas um exame atento desse passado, incluindo uma revisão de registos judiciais e entrevistas com 25 familiares brasileiros, antigos amigos e conhecidos, ajuda a colocar em foco o que equivale ao primeiro capítulo inédito da história de George Santos.

Dicas dos escândalos que virão – alegações de fabricação em série; um inquérito de ética no Congresso; Acusações federais dos EUA de fraude, lavagem de dinheiro, roubo e declarações falsas – estão espalhadas ao longo de sua estada no Brasil. Santos, que retornará ao tribunal federal de Nova York em setembro, era conhecido como um enigma, mascarado por múltiplas identidades e histórias aparentemente fantásticas.

Muitos que se lembravam dele diziam que ele era charmoso e engraçado, mas achavam difícil acreditar em grande parte do que ele dizia. Muitas vezes ele parecia querer que os outros pensassem que ele era muito mais rico, mais bem-sucedido e mais bem conectado do que ele, disseram. “Uma mania de grandiosidade”, disse um parente.

Outros o acusaram de roubo e fraude. Em 2011, o Ministério Público do Rio acusou Santos de fraude em cheques. Depois da sua eleição para o Congresso, em Novembro, ter informado as autoridades daqui sobre o seu paradeiro, ele confessou em tribunal o crime, punível com até cinco anos de prisão, para evitar processo.

Amigos e familiares discordam sobre quanto tempo ele morou aqui. Alguns dizem que ele passou grande parte da adolescência. Outros acreditam que foram apenas alguns meses de cada vez, durante vários anos. Mais incertezas cercam como ele passou seus dias no Brasil e se algum dia trabalhou aqui.